quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O TRABALHO, DESAFIO PARA A FAMÍLIA


10 de agosto de 2012

O TRABALHO, DESAFIO PARA A FAMÍLIA

Confesso a vocês que fiquei um pouco preocupada em falar sobre o tema que achei um tanto árduo, pesado, ainda mais numa sexta-feira de noite. Li o texto do Gênesis e meu receio foi aumentando, pois o texto diz:

Leitura da Palavra de Deus
8Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou aí o homem que Ele tinha criado. 9O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores, de aspecto agradável, e de frutos bons para comer; a árvore da vida no meio do
jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. 10Um rio saía do Éden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro córregos. 15O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e para o guardar (Gn 2, 8-10.15).

17E disse, em seguida, ao homem: «Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa! Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento, durante todos os dias de tua vida. 18Ela produzir-te-á espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. 19Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra da qual foste tirado; porque és pó, e pó te hás-de tornar!» (Gn 3, 17-19).

Após a primeira leitura do texto, outras se seguiram. Comecei a rezar, meditar e fui vendo que o texto tem uma mensagem maravilhosa para nós, que eu quero partilhar com vocês.

1. Deus deu tudo ao homem:
- a vida que é o bem mais maravilhoso que temos;
- também lhe deu toda a criação para que dela usufruísse.

Em contrapartida Deus queria do homem:
- fidelidade: disse para não comer do fruto proibido;
- respeito pela obra criada por Deus;
- queria que fosse um colaborador da criação.

Uma verdadeira honra para o homem e uma grande generosidade de Deus.

2. Mas o homem comeu do fruto proibido.

Vejam que antes e depois do pecado original, a tarefa do homem é a mesma: cuidar da criação: “O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e para o guardar.”.

O que mudou é que, após o pecado original, o trabalho a ser realizado pelo homem passou a envolver seu esforço: Comerás o pão com o suor do teu rosto.

A GRANDE LIÇÃO A SER APRENDIDA COM O TEXTO DO GÊNESIS É A LIÇÃO DA PACIÊNCIA. E JUNTO COM A PACIÊNCIA, A LIÇÃO DA ESPERANÇA.

Agora o homem terá que trabalhar e ter paciência e esperança, na expectativa dos frutos.

Também terá que:
- ser humilde para aprender com a terra qual o melhor meio de cultivá-la; o que cada semente precisa; qual o tempo que cada semente e cada árvore leva para dar seus frutos;
- tratar a terra com respeito, sem cair na tentação de dilapidar suas riquezas e poluir o planeta.
- agir com justiça e sabedoria, buscando o bem comum.

Deus com certeza não dá tarefa maior do que a capacidade que nós temos de cumpri-la. Foi o que aconteceu com o homem que passou a ter que trabalhar a terra ao invés de somente usufruir dela.

Portanto, o TRABALHO NÃO É PUNIÇÃO DIVINA, MAS UM EXERCÍCIO DE PACIÊNCIA PELO HOMEM.  Depois que o homem cometeu o pecado original lhe é exigido por Deus que tenha paciência para cultivar a terra e aguardar que a seu tempo possa colher os frutos e dele se fartar.

3. Tempos atuais: vivemos hoje a GERAÇÃO MIOJO, aquela sopa de macarrão que se faz em três minutos.

Semana passada assisti uma palestra interessante. O professor dizia que vivemos a geração miojo; o namoro miojo; o amor miojo; o estudo miojo...   

Se pararmos para pensar, vamos ver que hoje mais e mais as pessoas não tem paciência de aguardar o tempo certo de maturação das coisas, dos relacionamentos, dos acontecimentos. Graças ao grande avanço da tecnologia, estamos cada vez com menos paciência, ao ponto de os mais jovens acharem que cozinhar é fazer sopa de miojo.

Se antes demoravam horas para revelação de fotos, pois tínhamos que ter paciência de levar o filme numa loja especializada e esperar para que elas fossem reproduzidas, hoje a fotografia é digital e vemos a foto na hora.

Se antes ficávamos quatro horas no fogão a lenha para fazer o almoço, hoje o micro-ondas faz refeições em dez minutos.

Assim deixamos de entender:
- que tudo tem seu tempo de maturação;
- que a fadiga é inerente ao trabalho, e o cansaço não é necessariamente algo ruim;
- o cansaço e dor, sobretudo no que diz respeito ao trabalho a realizar para o próprio sustento, fazem parte da nossa vida.

Que não se orgulha de ter trabalhado bastante para deixar bens aos filhos? Quem não se orgulha de não ter sido egoísta no seu trabalhado, compartilhando seus conhecimentos e os recursos da vida, dentro e fora da família, especialmente com os mais pobres?

4. Trabalho: um bem para o homem e sua dignidade.
Se você pergunta a alguma criança o que vai ser quando crescer, nenhuma vai dizer que vai ser bonita, inteligente, gorda, elegante. Não. A resposta é sempre uma profissão, um trabalho que vai realizar. Isto porque o trabalho dá identidade e dignidade ao homem. Os que estão ou estiveram desempregados sabem muito bem quão grande é a tristeza de não ter trabalho.

O trabalho é, como dizia Santo Tomás de Aquino, um bem árduo, que exige o suor do homem, que lhe causa fadiga, mas que não deixa de ser um bem.

O trabalho é um bem, mas ele não pode ser uma finalidade em si mesmo. “Se o trabalho se tornasse uma finalidade, a idolatria do trabalho tomaria o lugar da colaboração exigida dos homens da parte de Deus.”

Hoje o termo que se usa para pessoa viciada em trabalho é workholic. Eu já trabalhei com gente assim. E quem trabalha com viciados em trabalho sabe que é um sofrimento muito grande. Eu tinha um superior hierárquico que ficava trabalhando até meia noite, e chegou uma vez até a dormir na empresa. E o pior é que essa pessoa pressionava para que os seus subordinados tivessem o mesmo comportamento.

O trabalho não pode se tornar um ídolo e não pode se sobrepor à família.

Hoje vivemos tempos perigosos em que muitas vezes ambos os cônjuges se sentem obcecados pelo lucro econômico e depositam a sua felicidade unicamente no bem-estar material. Em nossa época vivemos distorções muito grandes:
- um tênis de marca chega a custar o preço de dois pneus de carro. E as pessoas acham isso normal;
- a etiqueta de uma roupa é mais cara que a roupa e si. Antes a roupa tinha valor porque eu a usava, hoje eu é que tenho valor em usar a roupa de determinada marca.

Isto está muito errado. Por coisas mundanas, nos esquecemos de Deus, negligenciamos nossos filhos, e cada vez mais nos afundamos na busca de riquezas e na busca de satisfação de nossos desejos imediatos.

Conversem com seus filhos sobre gastos e orçamento doméstico. As crianças que não sabem o quanto é duro ganhar dinheiro, vão querer gastá-lo mais facilmente e de maneira menos sábia.

O perigo de que o trabalho se torne um ídolo é válido também para a família. Isto acontece quando a atividade de trabalho detém o primado absoluto perante as relações familiares, quando ambos os cônjuges se sentem obcecados pelo lucro econômico e depositam a sua felicidade unicamente no bem-estar material.

O risco dos trabalhadores em todas as épocas é de se esquecer de Deus, deixando-se absorver completamente pelas ocupações mundanas, na convicção de que nelas se encontra a satisfação de todos os seus desejos.

5. O trabalho dentro de nossos lares
O trabalho dentro do lar é importante. É também uma maneira de educar os filhos. Casa em que a mãe faz tudo, e só ela, está ensinando aos mais jovens uma falsa ideia de trabalho. A mãe que é responsável por todos os afazeres domésticos e além desse tem outro trabalho, com toda certeza fica sobrecarregada e não está dando bom exemplo de justiça na distribuição das tarefas domésticas.

São Paulo já dizia que o exemplo convence, mas a obra arrasta. Repito: que exemplo de trabalho estamos dando a nossos filhos?

Divisão de trabalho dentro de casa é fundamental, também, para a harmonia da família e para honrar as obrigações que Deus nos deus quando colocou a criação sob os nossos cuidados.

6. Minha mensagem final
Reitero meu pedido para que conversem com seus filhos sobre gastos e orçamento doméstico. As crianças precisam aprender desde cedo o quanto é duro ganhar dinheiro e o jovem precisam aprender que não temos que viver hoje cercados de prazeres como se fosse o último dia de nossas vidas.

É moda hoje o tal do “carpe diem”, ou seja, viva o dia de hoje como se fosse o último de sua vida e não se preocupe com mais nada. Aprendi que essa expressão surgiu quando o Império Romano estava em franca decadência e era um “salve-se quem puder”, pois a qualquer momento a cidade de Roma seria invadida pelos bárbaros e não se sabia o que iria acontecer: se seriam mortos, feito escravos, seriam feito prisioneiros, ou o quê. Portanto o lema “curta o dia de hoje” tinha sentido para os romanos da época.

Mas não deve fazer sentidos para nós cristão de hoje, pois nós não precisamos viver o “carpe diem”. Nós cremos em Jesus, cremos na bondade infinita de Deus e podemos vivenciar com paciência nosso trabalho em total harmonia com a nossa família.

Obrigada pela atenção. 

MARISILDA TESCAROLI.

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