10 de agosto de 2012
O TRABALHO, DESAFIO PARA A
FAMÍLIA
Confesso a vocês que fiquei um pouco preocupada em
falar sobre o tema que achei um tanto árduo, pesado, ainda mais numa
sexta-feira de noite. Li o texto do Gênesis e meu receio foi aumentando, pois o
texto diz:
Leitura
da Palavra de Deus
8Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no
Éden, do lado do oriente, e colocou aí o homem que Ele tinha criado. 9O
Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores, de aspecto agradável,
e de frutos bons para comer; a árvore da vida no meio do
jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. 10Um rio saía do Éden
para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro córregos. 15O
Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e para
o guardar (Gn 2, 8-10.15).
17E disse, em seguida, ao homem: «Porque ouviste a
voz da tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita
seja a terra por tua causa! Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento,
durante todos os dias de tua vida. 18Ela produzir-te-á espinhos e
abrolhos, e tu comerás a erva da terra. 19Comerás o pão com o suor
do teu rosto, até que voltes à terra da qual foste tirado; porque és pó, e pó
te hás-de tornar!» (Gn 3,
17-19).
Após a primeira leitura do texto, outras se
seguiram. Comecei a rezar, meditar e fui vendo que o texto tem uma mensagem
maravilhosa para nós, que eu quero partilhar com vocês.
1. Deus
deu tudo ao homem:
- a vida
que é o bem mais maravilhoso que temos;
- também lhe deu toda
a criação para que dela usufruísse.
Em contrapartida Deus queria do homem:
- fidelidade: disse para não comer do fruto
proibido;
- respeito pela obra criada por Deus;
- queria que fosse um colaborador da criação.
Uma
verdadeira honra para o homem e uma grande generosidade de Deus.
2. Mas
o homem comeu do fruto proibido.
Vejam que antes e depois do
pecado original, a tarefa do homem é a mesma: cuidar da criação: “O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o
no jardim do Éden, para o cultivar e para o guardar.”.
O que mudou é que, após o pecado
original, o trabalho a ser realizado pelo homem passou a envolver seu esforço: “Comerás
o pão com o suor do teu rosto.”
A
GRANDE LIÇÃO A SER APRENDIDA COM O TEXTO DO GÊNESIS É A LIÇÃO DA PACIÊNCIA. E
JUNTO COM A PACIÊNCIA, A LIÇÃO DA ESPERANÇA.
Agora o homem terá que trabalhar
e ter paciência
e esperança, na expectativa dos frutos.
Também terá que:
- ser humilde para aprender com a terra qual o
melhor meio de cultivá-la; o que cada semente precisa; qual o tempo que cada
semente e cada árvore leva para dar seus frutos;
- tratar a terra com respeito, sem cair na tentação
de dilapidar suas riquezas e poluir o planeta.
- agir com justiça e sabedoria, buscando o bem
comum.
Deus com certeza não dá tarefa maior do que a
capacidade que nós temos de cumpri-la. Foi o que aconteceu com o homem que
passou a ter que trabalhar a terra ao invés de somente usufruir dela.
Portanto,
o TRABALHO NÃO É PUNIÇÃO DIVINA, MAS UM EXERCÍCIO DE PACIÊNCIA PELO HOMEM. Depois que o homem cometeu o pecado original lhe
é exigido por Deus que tenha paciência para cultivar a terra e aguardar que a
seu tempo possa colher os frutos e dele se fartar.
3.
Tempos atuais: vivemos hoje a GERAÇÃO
MIOJO, aquela sopa de macarrão que se faz em três minutos.
Semana passada assisti
uma palestra interessante. O professor dizia que vivemos a geração miojo; o namoro
miojo; o amor miojo; o estudo miojo...
Se pararmos para pensar,
vamos ver que hoje mais e mais as pessoas não tem paciência de aguardar o tempo
certo de maturação das coisas, dos relacionamentos, dos acontecimentos. Graças
ao grande avanço da tecnologia, estamos cada vez com menos paciência, ao ponto
de os mais jovens acharem que cozinhar é fazer sopa de miojo.
Se antes demoravam horas
para revelação de fotos, pois tínhamos que ter paciência de levar o filme numa loja
especializada e esperar para que elas fossem reproduzidas, hoje a fotografia é
digital e vemos a foto na hora.
Se antes ficávamos quatro
horas no fogão a lenha para fazer o almoço, hoje o micro-ondas faz refeições em
dez minutos.
Assim deixamos de entender:
- que tudo tem seu tempo
de maturação;
- que a fadiga é inerente
ao trabalho, e o cansaço não é necessariamente algo ruim;
- o cansaço
e dor, sobretudo no que diz respeito ao trabalho a realizar para o próprio
sustento, fazem parte da nossa vida.
Que não se orgulha de ter trabalhado bastante para
deixar bens aos filhos? Quem não se orgulha de não ter sido egoísta no seu
trabalhado, compartilhando seus conhecimentos e os recursos da vida, dentro e
fora da família, especialmente com os mais pobres?
4.
Trabalho: um bem para o homem e sua dignidade.
Se você pergunta a alguma criança o que vai ser
quando crescer, nenhuma vai dizer que vai ser bonita, inteligente, gorda,
elegante. Não. A resposta é sempre uma profissão, um trabalho que vai realizar.
Isto porque o trabalho dá identidade e dignidade ao homem. Os que estão
ou estiveram desempregados sabem muito bem quão grande é a tristeza de não ter
trabalho.
O trabalho é, como dizia Santo Tomás de Aquino, um
bem árduo, que exige o suor do homem, que lhe causa fadiga, mas que não deixa
de ser um bem.
O trabalho é um bem, mas ele não pode ser uma
finalidade em si mesmo. “Se o trabalho se tornasse uma finalidade, a
idolatria do trabalho tomaria o lugar da colaboração exigida dos homens da
parte de Deus.”
Hoje o termo que se usa para pessoa viciada em
trabalho é workholic. Eu já trabalhei com gente assim. E quem trabalha com
viciados em trabalho sabe que é um sofrimento muito grande. Eu tinha um
superior hierárquico que ficava trabalhando até meia noite, e chegou uma vez
até a dormir na empresa. E o pior é que essa pessoa pressionava para que os
seus subordinados tivessem o mesmo comportamento.
O trabalho não pode se tornar um ídolo e não pode
se sobrepor à família.
Hoje vivemos tempos perigosos em que muitas vezes
ambos os cônjuges se sentem obcecados pelo lucro econômico e depositam a sua
felicidade unicamente no bem-estar material. Em nossa época vivemos distorções
muito grandes:
- um tênis de marca chega a custar o preço de dois
pneus de carro. E as pessoas acham isso normal;
- a etiqueta de uma roupa é mais cara que a roupa e
si. Antes a roupa tinha valor porque eu a usava, hoje eu é que tenho valor em
usar a roupa de determinada marca.
Isto está muito errado. Por coisas mundanas, nos
esquecemos de Deus, negligenciamos nossos filhos, e cada vez mais nos afundamos
na busca de riquezas e na busca de satisfação de nossos desejos imediatos.
Conversem com seus filhos sobre gastos e orçamento
doméstico. As crianças que não sabem o quanto é duro ganhar dinheiro, vão
querer gastá-lo mais facilmente e de maneira menos sábia.
O perigo de que o trabalho se torne um ídolo é
válido também para a família. Isto acontece quando a atividade de trabalho
detém o primado absoluto perante as relações familiares, quando ambos os
cônjuges se sentem obcecados pelo lucro econômico e depositam a sua felicidade
unicamente no bem-estar material.
O
risco dos trabalhadores em todas as épocas é de se esquecer de Deus,
deixando-se absorver completamente pelas ocupações mundanas, na convicção de
que nelas se encontra a satisfação de todos os seus desejos.
5.
O trabalho dentro de nossos lares
O trabalho dentro do lar é importante. É também uma
maneira de educar os filhos. Casa em que a mãe faz tudo, e só ela, está
ensinando aos mais jovens uma falsa ideia de trabalho. A mãe que é responsável
por todos os afazeres domésticos e além desse tem outro trabalho, com toda
certeza fica sobrecarregada e não está dando bom exemplo de justiça na
distribuição das tarefas domésticas.
São Paulo já dizia que o exemplo convence, mas a
obra arrasta. Repito: que exemplo de trabalho estamos dando a nossos filhos?
Divisão de trabalho dentro de casa é fundamental,
também, para a harmonia da família e para honrar as obrigações que Deus nos
deus quando colocou a criação sob os nossos cuidados.
6.
Minha mensagem final
Reitero meu pedido para que conversem com seus
filhos sobre gastos e orçamento doméstico. As crianças precisam aprender desde
cedo o quanto é duro ganhar dinheiro e o jovem precisam aprender que não temos
que viver hoje cercados de prazeres como se fosse o último dia de nossas vidas.
É moda hoje o tal do “carpe diem”, ou seja, viva o
dia de hoje como se fosse o último de sua vida e não se preocupe com mais nada.
Aprendi que essa expressão surgiu quando o Império Romano estava em franca
decadência e era um “salve-se quem puder”, pois a qualquer momento a cidade de
Roma seria invadida pelos bárbaros e não se sabia o que iria acontecer: se
seriam mortos, feito escravos, seriam feito prisioneiros, ou o quê. Portanto o
lema “curta o dia de hoje” tinha sentido para os romanos da época.
Mas não deve fazer sentidos para nós cristão de
hoje, pois nós não precisamos viver o “carpe diem”. Nós cremos em Jesus, cremos
na bondade infinita de Deus e podemos vivenciar com paciência nosso trabalho em
total harmonia com a nossa família.
Obrigada pela atenção.
MARISILDA TESCAROLI.